INFORMAÇÕES DA MÚSICA

Filosofia Campeira

Pedro Ortaça

CD Pedro Ortaça e Filhos (2015)

Declamado:
Amigos, me deem licença
Neste jeitão missioneiro
Vamos cantar um poeta
Tapejara, muy campeiro
O taura vocês conhecem
O velho Chico Ribeiro

Abri do crânio a porteira
Pra que rasgue a inspiração
Esta tropita ligeira
De estranha raça e padrão
Que vem presa a vida inteira
Sem que se molde a prisão

Declamado:
Tenho vista, tenho braço
Correndo bem não tem jeito
Nos cacos não troco passo
Jamais trançei com defeito
Compro a faca pelo aço
E o guasca pelo conceito

Conheço boi de tafona
Pelo tranco é roceirão
Quem não floreia a cordeona
Não canta verso em salão
Morre solito sem dona
Com honras de "bobaião"

Declamado:
Caboclo de sentimento
Bom na gaita, bom no pealo
Não guardo ressentimento
Dos que nasceram vassalos
Só trago no pensamento
O pago, o verso e o cavalo

O rio crescendo sem chuva
É sinal de chuvarada
Onde há formiga saúva
Também há planta cortada
A viúva só morre viúva
Sendo velhota ou pelada

Declamado:
Há quadros em que o valor
Não vai além da moldura
Campo aberto, logrador
Só no Rio Grande perdura
Quem vive no rapador
Pesteia vendo fartura

De laço, a mão convidando
Meu boca funda acredita
De qualquer lado chegando
Sou sempre o mesmo tourito
O pai dos grandes pealando
Num chão "pareio" e bonito

Declamado:
Não marco pingo no lombo
Nem o cutuco em pedrada
Não danço em chão de quilombo
Nem ergo poncho em ramada
Pela certeza do tombo
Não solto em cancha molhada

Não canto verso em bodega
Nem toco pra outro cantar
Sou guasca que não se entrega
Se for preciso pelear
Lasco fogo na macega
Pra ouvir o fogo estalar

Declamado:
Não peleio em redomão
Nem levo potro em tropeada
Não perco em jogo de mão
Nem rondo a beira da estrada
Só me agita a pretensão
De ser gaúcho e mais nada

Não gosto de laço novo
Nem fofoqueira me encanta
Não acredito em retovo
Nem guardo nomes de Santa
Sou guasca véio de um povo
Que nem de raio se espanta

Declamado:
Não encilho pingo alheio
Nem topo de outro a parada
Não castro touro em rodeio
Nem pealo vaca amojada
Rancho armado sem esteio
Não guarda china pilchada

Não puxo bomba a não ser
Antes do sol levantar
Não rezo sem me benzer
Nem me benzo sem rezar
Não compro pra não dever
Não devo pra não pagar

Declamado:
O pingo adoece da urina
Largando de cola atada
A escola que a vida ensina
Não foi da escola arrancada
É o rastro da própria sina
Que a sina solta na estrada

Não atoro gaita ao meio
Nem com três dias de farra
Cavalo que não tem freio
E cusco que não amarra
No pingo dos meus arreios
Moleque não senta as garras

Declamado:
Na cancha larga da vida
Quando a velhice nos monta
Somos a tropa perdida
Que uma outra tropa reponta
Carreira, ganhei partida
É glória que não se conta

Nem sempre o pingo de reta
Tem menos sangue nas veias
Na cabeça do poeta
Há um furacão que incendeia
Sorriso de noite quieta
Tumultos de sanga cheia

Declamado:
Quem canta seu mal espanta
É um velho provérbio nosso
Poncho ou pala não é manta
Sendo meu, já não é vosso
A querência é árvore santa
Que a sombra dela eu remoço

Campereei com o amigo Zeca
Com Sebastião alambre
Fogo de chama sapeca
Não dá churrasco de lei
Nunca servi de peteca
Nem das mulheres que amei
Nunca servi de peteca
Nem das mulheres que amei

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