INFORMAÇÕES DA MÚSICA

Sob as Mangas do Aguaceiro / Das Volteadas de uma Estância/ Paleteada

Cesar Oliveira e Rogério Melo

CD Rio-grandenses vol. 1 (2011)

A manga calma se transforma em aguaceiro,
O chuvisqueiro desentoca um campomar
Que se tolda em cima dum baio-oveiro,
Com meu sombreiro que tombeia ao desaguar.
Fecho seis dias que eu lido no alagado
E o banhado já virou um tremendal.
Onde é várzea, tornou tudo encharcado,
Campo dobrado, vertente de lamaçal.

Até a baeta do meu poncho está molhada,
Garra ensopada de varar passo e sanga.
O galpão virou um varal de arreios.
Oreando aperos enchaguados pela manga.
O gado berra nostalgeando tempo feio,
E a parelha do arreio calechou-se das basteiras.
Lombo molhado pra pisar foi bem ligeiro.
Ainda a força do potreiro tá de baixo da aguaceira.

Uma estiada negaceia por matreira,
Com cisma de caborteira vem escondendo a cara,
Do meu galpão sorvo as horas tramando tentos,
Desquinando pensamentos, remendando alguma garra.

Então me olvido empreitando esta faina pois a força divina já mais falha e nunca erra.
Talvez a chuva seja o adubo já gasto, que veio firma o pasto e larga uma graxa na terra

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Ainda nem rompeu a aurora
Nos confins do firmamento
E já se vê o movimento
Da indiada arrastando espora
Então parece que as horas
Passam mais desapercebidas
E as ansiedades da vida
Pedem boca de algum jeito
Quando um piazito abre o peito
Na volta da recolhida

É onde se agarra um quebra
Que tenha sangue nos olhos
Pois um covarde se achica
Quando um malo se embodoca
Aos gritos de vir a frente
A cavalhada entra em forma
E o índio que sabe as normas
Não refuga o que lhe toca

Um par de roseta grande
Um sombreiro requintado
Um tirador de vaqueta
E uma gana por semblante
Morrer, mas morrer peleando
Jamais frouxá o garrão
Com a pampa no coração
E as inquietudes por diante

Nas recorridas de campo
Até mesmo num aparte
Balanceando nos fiadores
Ou amadrinhando um potro
Porque o flerte é o companheiro
Parceiro dia após dia
Sempre que o galo anuncia
Que veio no rastro do outro

Assim desponta no passo
A novilhada dos fundo
Pedindo boca pro mundo
O ponteiro ganha espaço
Se agranda num cavajaço
No rodeio bate guampa
Na culatra outra estampa
Estrala um relho de braça
E a cuscada se adelgaça
Quando atropela nas pampa

As volteadas de uma estância
Castigam a alma de um guapo
Pois o lombo do cavalo
Não é bem o que se acha
Mas um taura que se anima
Terceia por essas léguas
Virando a boca da égua
Num grito de vai ou racha

Um par de roseta grande
Um sombreiro requintado
Um tirador de vaqueta
E uma gana por semblante
Morrer, mas morrer peleando
Jamais frouxá o garrão
Com a pampa no coração
E as inquietudes por diante

Nas recorridas de campo
Até mesmo num aparte
Balanceando nos fiadores
Ou amadrinhando um potro
Porque o flerte é o companheiro
Parceiro dia após dia
Sempre que o galo anuncia
Que veio no rastro do outro

Sempre que o galo anuncia
Que veio no rastro do outro

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VERTENTE

Lugar de onde verte água.

PONCHO

Pilcha, espécie de capa sem abertura e de gola redonda que abriga do frio.

GALPÃO

Tipo de edificação que com o rancho forma um conjunto habitacional no RGS; numa Estância ou numa Fazenda, abriga o alojamento da peonada solteira, os depósitos de rações, almoxarifados, apetrechos, aperos, galpão-do-fogo, etc.

APEROS

Preparos necessários para a encilha.

POTREIRO

Pequena invernada onde pastam potros, situado nas imediações de uma Fazenda ou Estância.

PIAZITO

Adolescente.

ROSETA

Peça circular (dentada ou pontiaguda) da espora.

TIRADOR

Avental de couro; pilcha exclusiva de serviço.

GANA

Desejo súbito, vontade.

PAMPA

Descampados cobertos de vegetação rasteira onde a vista se estende ao longe; compreende desde a Província da Pampa Austral, ao sul de Buenos Aires (Argentina) até os limites do RGS com o Estado de Stª Catarina (Brasil).

RODEIO

Reunião para cuido, que se faz do gado.

CULATRA

Retaguarda.

RELHO

Espécie de açoite.

TAURA

Vivente que se pode recomendar.