INFORMAÇÕES DA MÚSICA

É Mais ou Menos Assim

Telmo de Lima Freitas

CD Poesias (2001)

Como mudaram os tempos,
Como a vergonha escasseou,
Parece que evaporou
A essência fundamental,
Cada dia um vendaval
Muda o rumo da verdade
E aquela honestidade
Ferrenha de antigamente
Vai mudando diariamente,
Restando apenas saudade.

A estância continua
Com os mesmos afazeres,
Sempre c’os mesmos deveres
Na espera dos obreiros,
Se existir maus campeiros,
A tropa toda extravia,
Pois quando não se confia
No que faz o remanejo,
Apenas fica o desejo
O resto, vai a “la cria”.

Pois hoje em dia, o refugo
Pesa muito na balança,
A coisa ruim sempre avança,
Sem respeitar aramado,
Se a culpa foi do finado
De afrouxar o garrão,
Dando vez ao palavrão
Pra invadir serra e fronteira,
Deu tudo pro bagaceira
Se chamar de cidadão.

Entrar na casa dos outros
Sem nunca ser convidado,
Colher o que foi plantado
Por rebeldia, no mais,
Usar roupas sem remendo,
Mão calejada da cuia,
Polegar todo cortado
De tanto fazer “paiero”,
Não se iluda, companheiro,
Quanto mais sei, mais aprendo.

Às vezes eu me campeio
E não me encontro comigo,
Quero parar, mas prossigo,
Por incrível que pareça,
Chego perder a cabeça,
Sem saber pra onde vou,
Às vezes, nem sei quem sou,
Quando tapeio o sombreiro,
Bem do jeito missioneiro
Do falecido vovô.

Segundo mamãe contava,
Não era flor o velhinho,
Lá no Pinheiro Bonito,
De São Francisco de Assis;
Se criou como aprendiz
Num templo de maragatos.
Chapadões, várzeas e matos,
Gostava de recorrer.
Naqueles tempos, la pucha,
Usar um lenço encarnado
Era procurar encrenca
Ou pedir para morrer.

Em toda parte existia
Homem temperado a fogo,
Não se dobrava por nada,
Nem mudava de partido,
Envelhecia peleando,
Perdia mais que ganhava
Mas não se desacorçoava;
Daquela luta ferrenha,
Fazia parte da vida
Herdada com sangue e suor.

Muitos deixavam os pagos,
Emigravam co’a família
Numa carreta sem tolda,
Sem direção definida.
Filhos pequenos, coitados,
Nem sabiam pr’onde iam,
Muitos choravam com fome,
Por falta do que comer,
Saíam meio a “las pressas”,
Pra evitar um massacre
Que podia acontecer.

Piedade não existia,
Matavam porco, galinha,
“Rebanhavam” os cavalos,
Ainda atiçavam fogo
No paiol de feijão miúdo,
O que sobrou que se lixe.
Velhos coitados pediam
Pra não levarem os netos,
Mas não adiantava nada,
Quem não marchava, morria.

E, agora, de novo, vejo
Esse desmando maleva,
Sem saber quem é que leva,
Nem saber quem é que deixa,
Pouco adianta fazer queixa,
Continuam a confusão,
Enxada, foice, facão,
Vão se adonando do todo
E a gente pisa no lodo
Que ficou das invasões.

Cuidado! Muito cuidado
Temos que ter no momento,
Pouco adianta testamento
Ou partilha escriturada,
Numa forma abarbarada,
Não respeitam nem sinal,
A marca patrimonial
Querendo, pode borrar,
Difícil é resgatar
A forma justa e legal.

Eu ando trocando orelha
Na espera dum caudilho
E cada vez que dedilho
Esta guitarra campeira,
Trago de arrasto a fronteira,
Num canto de contraponto,
Sonhando, ás vezes, eu monto
No meu cavalo guerreiro
E, com ares de missioneiro,
Eu prendo o grito: Estou pronto!

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ESTÂNCIA

Grande estabelecimento rural (latifúndio) com uma área de 4.356 hectares (50 quadras de sesmaria ou uma légua) até 13.068 hectares (150 quadras de sesmaria ou três léguas), dividida em Fazendas e estas em invernadas.

TROPA

Coletivo de militares e de bovinos.

CARRETA

Veículo rústico e primitivo meio de transporte coletivo ou de cargas que chegou aqui no Pago Gaúcho, vindo dos romanos para a península Ibérica, tendo origem na Mesopotâmia.