INFORMAÇÕES DA MÚSICA

Evocação

Telmo de Lima Freitas

CD Poesias (2001)

Às vezes, tenho vontade
De refazer novamente
O que dantes eu fazia,
Mas me faltam calmarias
Das barrancas do Uruguai.
Me falta o grito das aves
Escondidas nas taquaras,
Expressando notas claras
No seu sublime cantar.
Tenho ânsias de brincar
Com a florzita amarela
Da velha maria-mol
Que, num tapete de flores,
Sorria, cheia de encanto,
Enfeitando um pôr-de-sol.

Me falta ouvir o retoço
De uma tropilha gaviona,
Fazendo rufos de cascos
Nas guanxumas do potreiro.
Me falta ver o campeiro
Quando retorna da lida,
Trazendo as vistas compridas
Para o rumo do galpão,
Cevando, no pensamento,
Um amargo de bom gosto
Para disfarçar as penas
Que leva no coração.

Me falta ver os arreios,
Por cima do cavalete,
Trono xucro onde o ginete
Se agarra, mui corajoso,
Quando o potro baixa o toso,
Brandeando rente do chão.
Esporas firme ao garrão,
Contando de eito em eito,
E o gaúcho abrindo o peito
Sem saber se volta ou não.

Me falta ver os juncais
Curvados frente ao altar
Das barras do Camaquã.
Me falta ouvir o tajã,
Num grito de desespero,
Anunciando que o chibeiro
Rumbeia sem direção,
Tendo Deus por proteção
Na jornada clandestina,
Cortando a proa e o sono
Na proa da embarcação.

Me falta ouvir os conselhos
Que ganhei quando menino
Dos meus generosos pais.
Os conselhos que jamais
Não poderei esquecer.
Sem dar-me conta, cresci,
Me nasceu barba na cara;
Meu cavalo de taquara
Não sei que rumo tomou.

Por que lembro tudo isso?
Porque tenho compromisso
Sem esquecê-lo jamais.
Isto devo aos amigos
Das antigas diversões,
Devo à terra das Missões,
De São Borja macanudo,
Mas devo, acima de tudo,
A criação de meus pais.

Tanta coisa que nos falta,
Que o destino, infelizmente,
Não permite refazer.
Mas recordar é viver,
Nos diz um velho refrão;
Por isso, em certa ocasião,
Que empeço a parar rodeio
Em tudo que se passou,
Recordo a perdida infância,
Que depois que me fiz homem,
Nunca mais procurou sal
No cocho do coração.

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TROPILHA

Coletivo de cavalos.

XUCRO

Selvagem.

POTRO

Cavalo novo que ainda não levou lombilho.

EITO

Porção ou área de lavoura sem medidas exatas que era proporcional ao número de escravos escalados para cumprirem uma determinada tarefa naquela área.

GAÚCHO

Palavra de origem guarany, pois nessa língua não existe vocábulos com o som da letra “L”.