INFORMAÇÕES DA MÚSICA

Porteira Afora

Lisandro Amaral

CD Canto Ancestral (2011)

Chegou linda a primavera,
Cavalhada pelechando,
Os cordeiros retoçando
É tempo de marcação,
Serviço que é tradição
Nestes pagos da fronteira
E a nossa gente campeira
Firma a têmpera do braço
Pealando de todo o laço
Sobre a praia da mangueira....

Os campeiros desencilham
Na sombra das caneleiras,

Os ovelheiros ficam cuidando os arreios,
Um guaxo pampa quer lamber as barrigueiras,
Voam mutucas, pateiam pingos atados
E um cardeal canta no alto das taquareiras.

Nuvens de poeira se levantam céu adentro
Nascem do centro do chão duro da mangueira,
Costeiam vacas berrando pelos terneiros
E um joão barreiro proseia co'a companheira.

Tinem arames, terneirada mal costeada
E a gauchada tira as botas, se arremanga;
Canha e pitanga são remédios numa guampa
Essência pampa, gosto de mato e de sanga.

Botale fogo nessas marca gratulino
Porque o silvino bololó ta de a cavalo
O mano vaz estira o laço num moerão
E o borbinha toma um trago no gargalo.

O seu pituca espeta a carne pra'o assado
O cipriano peala, capa e assinala
Homens maduros sentados sobre os arreios
E nesse meio o mate acompanha a fala.

Dono da casa seu venâncio arrisca um pealo,
Bem de a cavalo, o bololó livra o tirão
Gritos de: -aperta, venha a marca, ta pealado,
Tem ovo assado no brasedo do fogão.

-lindo pealo, gritam todos,
Aperta que é do patrão!
Don venâncio simbra o laço
Por sobre os calos da mão.

-pago o pealo- grita um, sovéu armado,
Bem reboleado, zunindo a armada no ar.
-deixa que saia olhando pro campo aberto
Que o tombo é certo quando o sovéu terminar.

-vira pr'a fica do lado!
Fala um que leva a marca.
-quebra a cola seu foroso
Que o seu juca corre a tarca!

-esse é pra touro, não capa!
Ordena, firme, o patrão.
-capricha no sentá a marca,
Palmo acima do garrão.

Que gente buena destes pagos de mi flor...
No tirador, capincho em couro sovado;
No lenço atado, bandeira pampa que esvoa
Quando encordoa um terneiro pra um bolcado

O luiz bacia pede cancha, armando o laço
E para o braço num tiro, longe, de atrás,
Pealo de mestre quando a trança se termina
E o tombo é sina que a natureza desfaz.

O diamantino raça de índio pampeano
Um soberano mesmo sem nada na vida;
Tropeiro andejo, obediente e servidor
Do corredor, fez casa, rumo e partida.

Eu fui guri que aprendeu a cucharrear
E derrubar na saída da porteira;
Fui mandalete de alcançar marca e serrote
Carneá um munício e desmancha pras cuzinheira.

Fui guitarreiro e toquei gaita nos galpões
E nos fogões alegrando a gauchada;
Andei por tudo pealando quando cresci
"dês que" saí dos pagos da encruzilhada.

Me fiz homen nesse tempo,
De aperta, marca, assinala;
É por isso que essas coisas:
Renascem em nossa fala.

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PAMPA

Descampados cobertos de vegetação rasteira onde a vista se estende ao longe; compreende desde a Província da Pampa Austral, ao sul de Buenos Aires (Argentina) até os limites do RGS com o Estado de Stª Catarina (Brasil).

LAÇO

Apero (acessório) trançado de couro cru, composto de argola, ilhapa, corpo e presilha.

MATE

Só é mate se tiver algum jujo (chá) junto com a erva.

SOVÉU

Apero torcido de couro cru, peludo (não tem ilhapa), que serve para capturar quadrúpedes.

TOMBO

Queda.

SINA

Destino, sorte.

GURI

menino, garoto (Se usa em outras partes do Brasil)

MANDALETE

Vivente incumbido de levar leite aos agregados do galpão (de manda letche); também, levar recados ou ordens aos peões.

MUNÍCIO

Algo que se leva para cozer ou assar e comer.