INFORMAÇÕES DA MÚSICA

Ritual de Recorrida

Marcelo Oliveira

CD Campo e Luz (2005)

No potreiro frente as casas
A boeira acende o brilho
Contraponteando o branquilho
Que se desmancha na brasa
Um sangrador pede vasa
Pingando sobre o fogão
Meu zaino quebra a ração
E o silêncio desta hora
Enquanto o garfo da espora
Se abraça no garrão

No varejão da porteira
Um galo de goela afiada
Despachando a madrugada
Na clarinada campeira
Saúda as barras da fronteira
Debruçada sobre os montes
E o dia vem de reponte
Destapando a noite preta
Que vira o carnal da baeta
Sobre a anca do horizonte

Arrocho o bocal do zaino
Ato o cacho a canta galo
Alçando a perna no embalo
Sobre o basto castelhano
Pois sou mais um aragano
Sem divisas, nem bandeira
Que ergue a pátria campeira
No coração e nos tentos
Mudando o rumo dos ventos
Sobre o junco das basteiras

Costeando o aramado
Que se estende em sete fios
Foi bombeando o tramerio
Recorrendo todo o banhado
Boto o sal e conto o gado
E o rebanho das ovelhas
Enquanto o pingo escarceia
Escutando a conta da talha
Esmaga o pasto e ensaia
Um contra-jogo de orelhas

E no trinar da cantilena
De puro aço templado
Lampeja raios prateados
Que suga a terra morena
Salga a pele dos torenas
Embaçando até as retinas
E eu fecho um baio georgina
Contra estas horas de calma
E adoço as penas da alma
Saboreando a minha sina

COMPARTILHE

POTREIRO

Pequena invernada onde pastam potros, situado nas imediações de uma Fazenda ou Estância.

VAREJÃO

Vara grossa e comprida para trancar porteiras de vara.

BASTO

Tipo de arreio.

PINGO

Afetivo de cavalo de estimação.

SINA

Destino, sorte.