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De Quando Um Centauro Renasceu

Sobre Um Homem Que Vinha Num Mouro (2006)

Joca Martins

Estava escrito no jornal
Uma notícia que ninguém leu
Dia hora e local
Em que um centauro renasceu

Falava de um charreteiro
Que foi peão de renome
Antes de fazer-se multidão
Perder rastro rosto e nome

Matungo chamavam o cavalo
Que se soube foi flor de flete
Antes de escaçar o pasto
E carregar o mundo, o mundo num frete

Quem vê assim estes dois
Depois das ruas da cidade
Não imagina inteiro
O que vê pela metade

Dizem dava gosto de ver
Aquela figura, figura inteira
Homem mesclado a cavalo
Num aparte de mangueira

Mas como eu ia dizendo
O baio vinha vergando
Ferida aberta no lombo
Sangue no asfalto pingando

E aquele charreteiro
Que foi peão de renome
Sabe bem que sem o frete
A piazada não come

Quem vê assim estes dois
Depois das ruas da cidade
Não imagina inteiro
O que vê pela metade

E aquele charreteiro
Hoje sem rastro e sem nome
Sabe que deve ao matungo
O tempo em que teve renome

O homem puxava a charrete
Notícia que todo mundo leu
Pra que o baio curasse a ferida
Que o peso do mundo lhe deu

Estava escrito no jornal
Uma notícia que ninguém leu
Aquele homem se fez cavalo
Um centauro renasceu

Quem vê assim estes dois
Depois das ruas da cidade
Não imagina inteiro
O que vê pela metade
{repete}

Estava escrito no jornal
Uma notícia que ninguém leu


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