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Poncho pátria

Poemas de Jaime Caetano Braum (2005)

Joca Martins

Meu poncho velho crinudo de tanto andar em tropeada
Hoje que não tenho nada parece que tenho tudo
Nessa maciez de veludo com baeta colorada
Te ganhei num jogo de osso perto de Montevidéo
Onde foi pro beleléo um índio do berro grosso
E sobraste do retoço como um presente do céu

Nesse teu pano há sinuelos de mil rodeios bravios
De campos matos e rios entreverados com pêlo
E manojos de cabelos de todos os rancherios

Dum comércio de carreira me lembro, poncho pachola
Veio esse rasgão na gola de uma faca carneadeira
Um sotreta calaveira que deixei vivo de esmola

Rancho de gola e baeta, poncho pátria castelhano
Te estendo de todo o pano como toalha de carpeta
Ou cortina de carreta pro chinaredo cigano
Às vezes meu poncho pátria até chego a imaginar
Que um dia vais me abrigar na quincha da noite preta
Quando explodir o planeta num holocausto nuclear


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