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Dois Pataqueiros

Metendo o Pau (2001)

Velho Milongueiro

Chegou esses dias la em casa, um índio bom de pataquada
Entramos a noite cantando, varamos a madrugada
Bom de prosa em assunto campeiro um distinguidor de manada
Numa trova de seis linhas com rimas bem colocadas.
Cinturão e botas de pelica, chapéu quebrado ao vento
Bigode de ponta torcida que dispensa documento
O violão soluçava manhoso pra cantar não existe lamento
Que até a lua prateada se acomodou no firmamento.

Relatou fronteira e serra, das missões ao litoral
Castração e marcação de tropa, quebra queixo de bagual
Lavra a terra a coice de boi, fez dourar um arrozal
E uma corrida de lebre levantar no macegal
Cantorias em terno de reis, surpresa em ainversário
Fandango e carreiradas agendou no calendário
Dos caminhos do rio grande sabe bem o intinerário
E nas festas da capela com a presença do vigário.

Falou em tantos assuntos tudo dentro do respeito
Mas quando falei em china o índio mudou de jeito
Me falou de um grande amor mas que um dia foi desfeito
Mas que deixou sua marca no lado esquerdo do peito
Por falsidade de alguém tudo virou em tristeza
Sem dar o braços a torcer as cartas foram pra mesa
Hoje ela vive com outro num romance de incerteza
Eu disfarço em cantoria não lamento a minha fraqueza.

Descobri que um homem rude pode ter um bom coração
A trás de um canto forte, o amor ser dono da razão
E um rosto sorridente pode esconder uma paixão
Pois o amor tem disfarce vem vestido de ilusão
Meu amigo foi embora, deixou a lição comigo
Quem houve mais do que fala, fala e não teme o castigo
E aqueles que me conhecem entenderão o que eu digo
Pois até a minha história é semelhante do amigo.


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