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Payada da Saudade

Poemas Gaúchos (1993)

Jayme Caetano Braun

Vou chegando e me pergunto
E ao mesmo tempo respondo
Sou verso chucro redondo
Cantado de contraponto
Assunto é qualquer assunto
Tenho sempre inspiração
Isto irmandade é o meu chão
Meu cartão de identidade
Venho matar a saudade
E dar paz pro coração

Ao relembrar minha infância
Tão longe que nem a vejo
Lá maula tenho desejo
De enrrodilhar a distância
Trazer meu galpão de estância
Que a memória não apaga
É plata que não se paga
Na sina de perdulário
Mas eu morro milionário
Me sobrou São Luiz Gonzaga

Recordo tempos perdidos
Que repontei no sinuelo
E como custou fazê-lo
Tantos anos decorridos
Chego a ouvir os alaridos
Num destampar de janeiro
Quando o mestre do terrero
Floreava o último canto
Cumpri meu destino santo
Que era nascer missioneiro

Diz que a parteira, uma tianga
Dessas da trança torcida
Vaqueanaça e atrevida
Me deu um banho na sanga
Pois macho não encaranga
Pois mais flaquito que nasça
Piazito baio fumaça
De longe se ouvia o choro
E fui deixado pra touro
Tinham confiança na raça

De volta ao pago sagrado
Donde nunca me apartei
Alcabo, conta me dei
Como está tudo mudado
Vejo o destino traçado
Que o velho tata riscou
Min'alma chucra chorou
Tantos amigos viajaram
E os outros que se estraviaram
Em breve também me vou

Quando eu me for indiada
Não quero mágoa, nem choro
Não vai faltar um índio touro
Há tantos nesta invernada
Um Deus te salve, mais nada
Quando souberem, morreu
Já podem saber que eu
Esbanjei tantos carinhos
Ando a campear nos caminhos
O que eu quis ser e não deu


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