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Cova de Touro

Semente da Tradição (2005)

Grupo Oh de Casa



Eu dei meu primeiro berro num fundão de campo aberto
Desmamado em tempo certo, me criei de pêlo fino
Arisco e meio teatino, de um rincão indo pra o outro
Comendo cupim de touro e sovando o lombo de potro

Sou cria da natureza, primo da água e do vento
Eu fui parido ao relento, que nem broto de pau ferro
Nas madrugadas dô um berro, que lá no capão ressoa
Acordando a sapaiada nas barrancas da lagoa

Moro do garrão do cerro onde berra o boitatá
Meu vizinho é um tamanduá e afurna no pa de aroeira
Nas noites de sexta-feira, de longe ouve a grasnada
Um lobisomem aparece e vem pelear com a cachorrada

Quando me vou pra um surungo, com a água meia costela
Boteio igual cascavel, bato os dentes igual capincho
Engancho as venta num guincho, vou farejando namoro
Aonde eu danço de espora, fica igual cova de touro

Vim no mundo por acaso e por acaso eu me vou
E o meu pai me ensinou que não perdesse meu tempo
Não vou dar tempo ao tempo, que meu tempo passará
Passando sei que não chego aonde eu quero chegar


(Tio Nanato)


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