INFORMAÇÕES DA MÚSICA

Oração de Posteiro

Noel Guarany

LP Canta Aureliano de Figueiredo Pinto (1978)

De tarde... Boleio a perna
E maneio o redomão,
-no portão do cemintério.
(Tauras... santas... e gaudérios...
Tudo em baixo deste chão!)
- Ë aqui... A cruz... Pé de flor...
Me ajoelho... E, a voz num temblor,
Rezo uma pobre oração:
Mãe-velha! Aqui está o teu piá,
Meio estropiado do mundo!
Com o meu recuerdo mais fundo
Te juro por esta luz:
- Mãe-velha! pela saudade
Da tua antiga bondade,
Eu vim te ver na tua cruz.

Tua benção venho buscar
Para os vereios da vida.
Trago espichada e estendida
Minha esperança de pobre.
Com medo que ela arrebente,
Venho te ver novamente
Sobre este chão que te encobre.

Mãe-velha! Não fui maleva!
Eu nunca te contrariei.
E, se um dia, te magoei,
Logo pedi o teu perdão!
Como quando tu vivias,
No meu jardim de alegrias
Derrama o teu coração.

Escuta! Santa Mãe-velha:
-Pede a Deus junto a ti,
Que a estes teus netos-guris
Faça uns gaúchos de alma reta
Na conduta sem desmancho.
E à neta... orgulho do rancho!
Porque inté é linda a tua neta.)

Me ajuda a ver se deu jeito
Que eles aprendam a ler,
Para o mundo compreender,
Sem gritos, ralhos, nem relhos.
Por mim ensino o que posso:
-Já les dei o Padre-Nosso
E um pouco de teus conselhos.

Que eles, sendo moços feitos,
Se por outros pagos cruzem,
Buenos e leais, não abusem
Da força que os tauras têm.
Faz, que o destino confirme,
Tua neta - a gauchita firme!
Que nunca engane a ninguém.

E se um dia estale a guerra,
Que encarem o sol de frente!
Com essa bondade valente
Que vem, mãe-velha, de ti.
E honrem a marca da herança
Dos que empurraram com a lança
Esta fronteira até aqui!

Que a mãe deles seja sempre
A boa e fiel companheira
A quem pobreza e canseira
É um galardão de Jesus.
Quando a encontrei (comparando...
Fui como um cego sarando!
-bobo do encontro com a luz.

Que eu tenha força nos braços,
Coragem no coração,
Para agüentar o tirão,
E a minha gente conduzir.
E me dê sorte e bom vento
Para eu ganhar seu sustento
E os trapos pra eles vestir.

Que a saúde não me deixe!
Para eu criar a ninhada
Sem andar esparramada
Como filhos de avestruz.
E com patrões mais humanos
Possa eu viver muitos anos
Para enfeitar tua cruz!

Bueno... Mãe-velha... Vou indo...
E ao tranco... Tenho a alma inteira
Presa na estrela boieira,
Que me olha, no céu parada,
Também tão longe e solita...
- Como se o olhar de velhita
Me acompanhasse na estrada!

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INTÉ

Até.

GALARDÃO

Distinção que se ostenta ou se exibe.